Review Multiversal: The Midnight Gospel


De tempos em tempos surgem propostas muito, muito... excêntricas. The Midnight Gospel é uma criação de Pendleton Ward (Hora de Aventura) e Duncan Trussel, que tem como proposta adaptar episódios do podcast de Trussel, o Duncan Trussel Family Hour, em uma série animada. Ou quase isso. Ou algo assim. Não sei, é bem excêntrico.

Um apresentador de espaçocast visita mundos malucos em seu simulador de universos e explora questões existenciais sobre a vida, morte e muito mais. (Sinopse da Netflix)

A proposta dessa série é até que bem simples, o que complica é sua execução: The Midnight Gospel é a adaptação animada de um podcast, onde o entrevistador (Clancy) entrevista seres em mundos caóticos e próximos do fim, onde conversam sobre temas espirituais, filosóficos e esotéricos. Ah, e tem uma história da própria série correndo no fundo!


Seguindo a premissa básica, acompanhamos Clancy com seu simulador de multiverso fazendo entrevistas por esses universos em apocalipses e isso por si só já é muito doido. No começo do episódio, Clancy escolhe um mundo e um avatar para si, é lançado neste mundo pelo simulador e lá encontra algum ser para entrevistar, conversam sobre temas muito pouco usuais enquanto o mundo caótico e a narrativa dos entrevistados (ou de Clancy) seguem acontecendo visualmente. Então, simplificando, existem duas linhas por episódio: a entrevista e os acontecimentos do mundo, que geralmente complementam o que está sendo dito. Mas o que está sendo dito?

Entre os temas debatidos pelos entrevistados do podcast estão: meditação, liberação das drogas, morte, magia, perda, iluminação, raiva, perdão, budismo, realidade, dentre muitos outros. É realmente muito fora do usual e profundo tudo o que é dito aqui. As entrevistas funcionam com Duncan (Voz de Clancy e host do podcast real) conversando com os entrevistados e compartilhando seus próprios conhecimentos e experiências, tudo dentro das especialidades e filosofias de cada episódio/convidado. E é muito interessante! Claro, é necessário estar aberto para ouvir todas essas opiniões e filosofias, e é totalmente compreensível que não seja pra todo mundo.


Quanto aos acontecimentos visuais de The Midnight Gospel, fica até mais difícil dizer. Ao mesmo tempo que contam as histórias de seus mundos eles se interligam com o que está sendo dito e o resultado é uma grande viagem psicodélica cheia de ultra violência, elementos sexuais e metáforas. Toda a direção de arte é muito competente e te deixa preso em uma espiral de fantasia grotesca, psicodelia e referências dos mais diversos tipos de correntes filosóficas e religiões. 

Além dos espaçocasts sendo gravados, acompanhamos a vida real de Clancy, que funciona como a linha narrativa da série, surgindo no primeiro episódio e tendo sua conclusão no episódio final, o de número oito. Passamos mais tempo seguindo os acontecimentos do mundo real após a metade da série e devo dizer que é um dos grandes ligamentos da série, pois a partir de certo ponto, o que é discutido é o que Clancy precisa ouvir para melhorar como pessoa. E essa abordagem voltada para o personagem central é vital para a série não perder seu gás e manter seu espectador interessado no que ainda está por vir, mesmo que às vezes esse núcleo pareça mais forçado que os outros. 


Não existem personagens fixos além de Clancy, seu cachorro e o computador, então não tem muito o que comentar sobre. Mesmo se comportando como um babaca, Clancy é carismático o suficiente para querermos acompanhar suas aventuras e arco narrativo. Os entrevistados são todos muito distintos e, como estão sendo entrevistados, possuem vários diálogos expositivos e possuem seus próprios objetivos, destacados na narrativa de maneira visual. Dependendo do que está sendo debatido e mostrado, você vai ter seu preferido e menos preferido.

Falando em preferido, o episódio que mais gostei foi o de número 4, "Ordenando um corvo", que se passa em um mundo medieval cheio de magia e piadas escatológicas. Nele Clancy entrevista milady Trudy, uma cavaleira badass que está em busca de vingar seu amor que foi morto por um demônio-bunda. Durante a jornada, os personagens conversam sobre a importância de estar presente e ouvir o que os outros dizem e o que significa ouvir de verdade. Além de ter gostado muito dos temas e debates apresentados, o episódio me surpreendeu muito positivamente com uma batalha clímax muito bem animada e coreografada, além de possuir designs e uma atmosfera muito bem feitos. Acho que o Pendleton Ward fã de D&D é meu preferido afinal.



Em todos os quesitos técnicos a série é única e muito boa para sua proposta. A direção de arte ficou a cargo de Jesse Moynihan (Ex-artista de storyboard e escritor em HdA, autor do quadrinho psicodélico "Forming") e ele tem total noção e controle do que está fazendo, além de fazer muito bem. Visualmente a série é caótica, colorida e extremamente inventiva, além de não poupar violência e elementos sexuais. Nos momentos chave da narrativa, toda a inventividade e semiótica é posta a prova e nunca decepciona, tudo ou é muito cheio de significado ou muito bizarro ou os dois. A animação também se destaca, sendo 
um trabalho do incrível estúdio Titmouse (Mao Mao, Big Mouth) e trabalha muito bem com quadros limitados, é incrível como tem muita coisa acontecendo ao mesmo tempo e como as cenas chave são impecáveis.



A música também é muito presente na produção, com a trilha misturando indie rock e batidas de música eletrônica. Entretanto, o destaque para mim são as músicas cantadas por Duncan Trussel na pele de Clancy, compostas por ele mesmo, além dos remixes apresentados no final de cada episódio.

Diferente de tudo que eu ou você já tenhamos visto, The Midnight Gospel é uma produção profunda, inventiva, psicodélica, violenta, engraçada e, definitivamente, não é pra todo mundo. Mesmo assim, com a mente aberta e olhos e ouvidos bem atentos, é impossível não dizer que esse espaçocast animado se destaca no vazio existencial do espaço.

Nota: 8!


Todos os episódios de The Midnight Gospel já estão disponíveis na Netflix.

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Muito obrigado por ler até aqui! E não se esqueça de dar uma ouvida no novíssimo episódio do nosso espaçocast!

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Muito obrigado novamente, se cuidem e até mais!

Escrito por Thiago Almeida

Comentários

  1. Descobri hoje o blog e já me apaixonei.

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    1. Muito obrigado pelo seu comentário Luísa, significa muito para a gente saber que você gostou!

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