As Autoras de B-Shonen- #4: Kazue Katō

julho 03, 2020

As Autoras de B-Shonen- #4: Kazue Katō

Se tratando de um tema muito polêmico e macabro no ocidente, o exorcismo pode ter formas bem diferentes dependendo da perspectiva. Para uns, tudo o que se pode tirar disso é o terror existencial e a indubitável existência de seres demoníacos. Já, para outros, pode ser uma boa premissa para um gibi de pancada entre adolescentes que ensina sobre esforço, amizade e vitória!

No último texto da nossa minissérie especial "As Autoras de B-Shonen", vamos falar da senhora dos exorcistas e da Jump SQ, a autora de Blue Exorcist, Kazue Katō!

Katō nasceu em Tóquio, no dia 20 de julho 1980, e é a mais velha de três irmãos. A garota não demorou muito para se apaixonar por animes e mangás, sendo que durante o ensino médio era uma grande fã e pensava em se tornar uma animadora. Porém, ao ter decidido se tornar uma animadora, foi falar com seu pai, que disse que pagaria seus estudos se ela tivesse certeza que seria capaz de viver disso. Como ela não tinha como se garantir e não acreditava que estava no nível certo, além de levar isso como seu hobby, respondeu que não, além de que seria muito difícil convencê-lo.

Nesse caso, Katō foi para uma faculdade tradicional, fazer um curso tradicional com gente tradicional. Mas não durou muito, aquilo definitivamente não era para ela. No ano de 1999 fez sua estreia no universo dos mangás com Majo to Usagi to Oira, um one-shot que garantiu a ela o Prêmio Tenkaichi. Em 2000, voltaria se destacar ao vencer o Prêmio Tezuka, um dos mais importantes para autores novatos, por seu one-shot publicado na Akamaru Jump, Boku to Usagi.

Após algum tempo, a autora se transferiu da editora Shueisha para a Kodansha, e, não sei o motivo, mas não consegui encontrar informações sobre o que Katō andou fazendo entre os anos de 2001 e 2005 . Porém, entre 2005 e 2006, ela publicou a sua primeira série: Robo to Usakichi, na Gekkan Shonen Sirius, da Kodansha.

Robo to Usakichi.

Robo to Usakichi foi uma série mensal de ação, aventura e ficção científica que durou 5 volumes e contava a história de dois amigos, um garoto e um coelho humanoide, viajando pela galáxia e lutando contra uma organização maligna que quer encontrar uma arma capaz de destruir planetas. O mangá não foi muito popular e pouco se encontra de sua publicação no ocidente, sendo que, até onde consegui checar, somente os italianos viram Robo to Usukachi sendo lançado no ocidente.

Algo que não fica muito evidente em sua maior obra mas está presente em Robo to Usukachi, é a influência e paixão de Kato por muitas obras ocidentais. Uma de suas paixões, por exemplo é Star Wars, franquia da qual tem action figures e DVDs em seu estúdio. Entre outros interesses que a autora tem na cultura pop deste lado do mundo estão O Hobbit, The Big Bang Theory e The Walking Dead, sendo que este último até recebe referências bem diretas em alguns capítulos de Blue Exorcist!

Ilustração para o lançamento de "Os Últimos Jedi"! Eu gosto desse filme, mas gosto ainda mais da arte da Katō!

Voltando para sua carreira, após sua primeira série, a mangaká retornou para a Shueisha, sua antiga editora. Em seu retorno, publicou alguns one-shots e, um

deles foi Miyama Uguisutei Jiken, que viria mais tarde se tornar a base para sua série mais popular: Blue Exorcist!

O "Exorcista Azul", "Ao no Exorcist", "Blue Exorcist" ou "AoEx", para os íntimos, conta a história de Rin Okumura, um garoto de 16 anos que não se encaixa e vive na sombra de seu irmão gêmeo, Yukio. Além de estar sempre em segundo plano e sem rumo, Rin ainda tem uma relação problemática com seu pai, o Padre Fujimoto e não vê a hora de descobrir quem realmente é. O que acontece é que ele descobre: na realidade, ele é o filho do próprio Satã.

Cara, a Jump SQ. é legal...

A publicação dos capítulos da série começou em 2009 na revista mensal Jump SQ. e segue até os dias de hoje, contando com 25 volumes encadernados. AoEx alcançou uma grande popularidade em pouco tempo, sendo que seu ápice foi logo após a primeira temporada do anime, no ano 2011, onde sua adaptação foi um dos grandes sucessos do ano e alavancou as vendas dos volumes para números grandiosos, chegando a ultrapassar 800 mil cópias vendidas por volume.

Tendo como principal inspiração o filme "Os Irmãos Grimm" (dirigido por Terry Gilliam, 2005), onde os famosos irmãos escritores lutam contra demônios, Kazue Kato viria a criar uma história sobre família, dualidade, inveja, amadurecimento, amizade, pertencimento e outros variados temas, todos muito bem abordados em meio a personagens complexos, drama adolescente clássico, humor pontual e, claro, uma porrada shonenzesca aqui e acolá. E olha que ela nem gostou do filme hein.

Em terras tupiniquins, a JBC publica os volumes encadernados do mangá, mas vc também pode conferir os primeiros capítulos e os mais recentes em inglês ou espanhol no MangaPlus!

Aqui no blog já contamos com um texto mais detalhado sobre o porque de eu achar Blue Exorcist um b-shonen muito acima da média, por isso não irei me alongar nessa seção, você pode ser redirecionado para o tal texto clicando AQUI.

Por ter iniciado sua publicação em 2009 e ser uma série com capítulos mensais, a adaptação em anime de 2011, a partir do episódio 18, optou por uma prática muito comum de adaptações de séries em publicação nos anos 2000: dar um fechamento original para a série, mesmo que o material fonte continue a ser publicado. Esse final, que difere bastante do desenvolvimento do mangá, foi uma escolha que se provaria prejudicial para a série a longo prazo. Vou explicar. Ainda em 2011, AoEx recebeu seu merecido longa metragem, , contando com uma história original. E os anos se passaram, até que em 2017 estreou a segunda temporada da adaptação em anime, se baseando no arco da batalha contra o Rei Impuro e ignorando o fechamento original do anime, continuando logo após o episódio 17.

No Brasil, o anime de Blue Exorcist tem sua primeira temporada disponível na Netflix e a segunda está na Crunchyroll.

Diferentemente da primeira, a segunda temporada não atraiu tanta atenção. Algo que vejo frequentemente na internet em postagens sobre novos volumes, onde aparece um novo volume de Blue Exorcist, são pessoas com comentários do tipo "Isso ainda é publicado?", "Nossa, pensei que já tinha acabado!" e variantes. Acredito eu que essa ideia de que a série chegou ao fim exista por conta do primeiro anime botar um ponto final na história e por conta do mangá seguir em um ritmo bem lento (até mesmo pra uma série mensal), o que acarreta na perda gradual de leitores, infelizmente.

Todavia, mesmo não estando no auge de sua popularidade e perdendo leitores, Blue Exorcist não deixa de se superar em qualidade. Kazue Kato é uma autora versátil e que se destaca muito ao criar personagens relacionáveis e conflitos tematicamente interessantes, que se relacionam a fantasia com poderosas ilustrações e ótimos desenvolvimentos. Derrotando todos os demônios que podem aparecer na indústria dos mangás e provando para todos seu verdadeiro potencial através de uma obra singular e apaixonante, Kato corta o coração de seus leitores a cada capítulo com sua espada de criatividade e técnica, emanando chamas azuis!