Hogfather: um motivo para acreditar! (e uma introdução ao Discworld)

 

Hohohohohogwatch! Por mais longo, acidentado e confuso que seja um ano, cedo ou tarde, mas sempre na mesma época, o natal chega. Uma data que para muitos representa algo extremamente especial e que, para algumas outras pessoas (um grupo de qual faço parte), representa um feriado quente mas com uma proposta interessante e que, como humanos, devemos nos interessar em pelo menos acreditar que seu espírito de amor tem poder.

Seguindo a tradição de especiais de fim de ano aqui no Hero Strike, neste dia 25 eu gostaria de falar sobre Hogfather, uma das principais histórias que compõem o vasto universo do escritor inglês Terry Pratchett. Mas, antes de ir direto ao ponto, preciso discorrer sobre algumas coisas e ter a honra de apresentar este incrível e muito único universo para algumas pessoas. Então, vamos lá!

O universo de discworld é um lugar um tanto peculiar por si só. Seu mundo homônimo constitui em um planeta plano que se equilibra nas costas de 4 elefantes gigantes, sendo que estes estão em pé em cima do casco de uma tartaruga maior ainda. Mas essa é apenas a visão que você tem do mundo se estiver vagando pelo espaço após fugir da destruição de seu planeta ou se é um cometa de passagem. Lá embaixo, onde as histórias realmente acontecem, existem bruxas, uma universidade de magos, uma megalópole caótica guardada por pessoas muito pouco preparadas, deuses aprisionados na forma de tartarugas temendo águias, dentre todo tipo de ser que a sua imaginação provavelmente nem sabe por onde começar. O universo do disco parece a mais normal das ideias se comparado as histórias daqueles que vivem nele. 

Toda essa criatividade, unida com uma habilidade de escrita ímpar e uma grande sagacidade com analogias e metáforas que remetem a natureza humana vem da mente do incrível Sir Terry Pratchett (1948-2015), que durante 3 décadas publicou 41 livros que compõe este maravilhoso, cômico e criativo mundo. Uma das escolhas mais interessantes que o autor fez foi não ter um, mas sim vários personagens principais, que se alternam na ordem de publicação e que sempre servem como porta de entrada. Dentre as mais interessantes estão um trio de bruxas, o pior (e mais sortudo) mago de todos, a guarda atrapalhada da cidade de Ankh-Morpok e até mesmo a própria personificação da Morte, que tem é fascinada pela humanidade.

Infelizmente, a série literária nunca decolou no Brasil, sendo que apenas 18 dos mais de 40 livros foram localizados, com espaçamento de tempo bem generosos na publicação, não muitas cópias e por duas editoras diferentes, a Conrad e depois a Bertrand Brasil. Agora você deve estar se perguntando (ou não), vale a pena começar uma série incompleta no nossos idioma e que tem várias edições difíceis de achar? Preciso dizer que: COM CERTEZA! Mesmo que não seja possível ler toda a saga em português, cada livro é uma experiência única e muito recompensadora, que esbanja conceitos de fantasia e filosofia. O meu livro de entrada foi "Pequenos Deuses", publicado pela Bertrand Brasil e sempre em promoção na amazon e, sendo uma história fechada e única, acredito que seja a introdução perfeita para a série e estilo de escrita de Terry Pratchett, sem compromisso. Se tiver a oportunidade, vai sem medo!

PORÉM, voltamos para aquilo de que muito livros não foram lançados em nossas terras tupiniquins, o que nos privou de grandes clássicos do mundo do disco, como...

Hogfather é o quarto livro da subsérie da Morte e se situa na noite do Hogswatch, o equivalente do natal no discworld, mas que acontece no dia 32 de dezembro. Nessa noite, o Hogfather (que é uma versão do Pai Natal do folclore inglês) usualmente leva presentes para as crianças, porém, neste ano ele desapareceu. Cabe então a Morte ocupar sua função enquanto sua neta, Susan Sto Helit, investiga o caso. 

Sendo uma história repleta de conceitos criativos, planos diferentes, assassinos e magos, Hogfather, assim como todas as obras de Pratchett, explora temas fascinantes de uma maneira profunda e, ao mesmo tempo divertida. Aqui, a própria crença é posta em cheque quando as crianças começam a deixar de acreditar no Hogfather que, assim como a morte, é a personificação de uma ideia que muitas pessoas acreditam.

Em 2006 Hogfather foi adaptado para dois telefilmes pela Sky One no Reino Unido, e eles são ótimos filmes! A Imagem Filmes chegou a lançar eles em DVD por aqui com o nome de "Missão Especial de Natal" (estou tão confuso quanto você), mas é bem difícil de encontrar. Se tiver interesse, boa sorte. Ah, se souber inglês, os dois longas podem ser assistidos no YouTube!

Agora, voltando para o conteúdo em si, dentre as muitas questões que a obra traz, a que mais ficou comigo foi: por que nós, humanos, precisamos acreditar? E uma das passagens finais desse livro mostra como Terry Pratchett tinha um entendimento muito íntimo da natureza humana. É um spoiler do final, então se pretende assistir/ler Hogfather e prefere não saber de nada, recomendo que pule. Mas, garanto que se decidir ficar para ter uma palinha, não se arrependerá:

"

“Tudo bem”, disse Susan. 

“Não sou burra. Você está dizendo que os humanos precisam... de fantasias para tornar a vida suportável. 

"MESMO? COMO SE FOSSE ALGUM TIPO DE PÍLULA COR-DE-ROSA? NÃO. O SER HUMANO PRECISA DE FANTASIA PARA SER HUMANO. PARA SER O PONTO ONDE O ANJO EM QUEDA ENCONTRA O MACACO EM ASCENSÃO. 

"Fadas do dente? Hogfathers? Pequenos-

SIM. COMO PRÁTICA. VOCÊ TEM QUE COMEÇAR APRENDENDO A ACREDITAR NAS MENTIRAS PEQUENAS.

"Para que possamos acreditar nas grandes?

"SIM. JUSTIÇA. MISERICÓRDIA. DEVER. ESSE TIPO DE COISA.

"Não é a mesma coisa!"

VOCÊ ACHA? ENTÃO PEGUE O UNIVERSO E MOA-O ATÉ O MENOR DOS GRÃOS E PENERE-O ATRAVÉS DA MELHOR PENEIRA  E DEPOIS MOSTRE-ME UM ÁTOMO DE JUSTIÇA, UMA MOLÉCULA DE MISERICÓRDIA. E AINDA - Morte acenou com a mão. E AINDA ASSIM AGIRIA COMO SE HOUVESSE ALGUMA ORDEM IDEAL NO MUNDO, COMO SE HOUVESSE ... ALGUMA CERTEZA NO UNIVERSO PELA  QUAL O UNIVERSO POSSA SER JULGADO.

"Sim, mas as pessoas precisam acreditar nisso, se não qual é o ponto-

"MEU PONTO, EXATAMENTE."

                                                                                                                                   "

Extraído de Hogfather, por Terry Pratchett.

Tradução e adaptação amadora por eu mesmo.

Como humanos, nós precisamos crer, precisamos nos apegar. Às vezes fica difícil, alguns dias são nublados e outros tempestuosos. Porém, ainda assim, cremos que os dias ensolarados chegarão, e eles chegam. Mesmo que não exista nenhuma força maior, que não exista sentido aparente em escolher um dia do ano para celebrar o amor, acredito fielmente que existe. O próprio amor fundamenta mais do que o suficiente o sentido de celebrar o amor. Mesmo que nada exista, quando cremos, algo toma forma. 

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Conheci o mundo do disco este ano e me apaixonei. Até agora não me aprofundei muito na obra de Pratchett, então não sou a melhor pessoa para apresentar a série, ainda assim, tentei, por favor me perdoem por qualquer equívoco. 

Se realmente ficou interessado em discworld, recomendo que dê uma olhada no site do Guia do Disco!: https://guildadodisco.wordpress.com

Muito obrigado por ter acompanhado o blog até aqui! Mais um ano complicado por conta do vírus e da ignorância, mas parece que estamos chegando próximos deste fim e, com certeza, merecemos todos um novo começo. Que façamos nosso melhor. Em nome da equipe do Hero Strike, te desejo o mais feliz dos natais!

Como esse é o meu último texto do ano, quero agradecer especialmente a minha amiga Beatriz, uma pessoa incrível e que merece todas as coisas boas do mundo, ao meu grande amigo Marccelo, que onde for que estiver, nunca duvide que sempre estou com ele, a minha maravilhosa família, fabulosos amigos e, claro, a você, gentil leitor! Obrigado pelo apoio! 

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Nos lemos no próximo ano. Até lá!

Escrito por um Thiago que jura ter ouvido uma tartaruga falar com ele.