RESENHA: O Código Oráculo

 

A minha pilha de leitura física está um tanto alta e, boa parte dela, é composta por graphic novels do selo DC Teens.  Sendo assim, tomei a decisão de ler essas graphic novels tão diferentes da editora do azulão e postar as resenhas por aqui. A primeira, a propósito, já saiu e foi sobre "A Sombra da Batgirl". Hoje vou falar de uma outra história protagonizada por uma personagem que já foi (e voltou a ser, na linha do tempo dos quadrinhos principais tá além da compreensão humana) a Batgirl: Bárbara Gordon, também conhecida pela alcunha de Oráculo!

Para começar, eu preciso destacar que o selo DC Teens é uma das iniciativas mais experimentais da DC Comics em anos. Isso porque esses quadrinhos vão muito além de ser revistas introdutórias às personagens, são graphic novels completas e cheias de nuances. Se for pra fazer uma comparação, eu diria que a DC Teens está para a DC como a Graphic MSP está para a Maurício de Sousa Produções. É, o negócio é brabo mesmo. 

Em "O Código Oráculo" acompanhamos Bárbara Gordon, que passa a viver num centro de reabilitação após ser baleada e perder os movimentos das pernas. Bárbara é uma jovem inteligente e astuta, muito habilidosa com computadores e com um raciocínio lógico muito fora da curva. Contudo, depois do acidente, Bárbara se sente perdida e precisa se reencontrar em uma jornada cheia de novas amizades, sombras e quebra-cabeças. 

O Código Oráculo foi publicado no Brasil pela Panini Comics. 

Então, introduções feitas, eu já vou adiantar que gostei muito de "O Código Oráculo". A história de Bárbara Gordon aborda diversos temas interessantíssimos e que carecem de representação nos quadrinhos e em outras mídias. Depois de ficar paraplégica, Bárbara tem muita dificuldade com a aceitação de sua nova vida e com a retomada de velhos hábitos que a definiam, como ser uma hacker. Esses pontos são centrais na trama, que aborda de maneira muito bem trabalhada a condição de PcD. Uma pessoa com deficiência quer viver a vida e não ficar à margem da sociedade. 

Além disso, a "O Código Oráculo" usa muito bem o pragmatismo de Bárbara Gordon na maneira que ela lida com os mistérios do centro de reabilitação onde ela está, o CAPI (Centro Arkham Pela Independência). Bárbara é uma hacker e pensa nos desafios como quebra-cabeças que podem ser resolvidos utilizando a lógica. Ao mesmo tempo, nossa protagonista nunca soa "fria e calculista", sempre se mostrando uma jovem que se importa com os outros e que está profundamente ferida pela grande mudança que sua vida sofreu. 

Durante a história, Bárbara conhece Jenny, que foi para o centro depois de perder toda sua família, menos seu irmão gêmeo, em um incêndio. Jenny tem o hábito de contar histórias para ajudar seu irmão a dormir e passa a contar para Bárbara também. Essas histórias valem o destaque por terem o tom bem macabro e estilo artístico diferente. São pequenos contos que são relevantes para a trama em várias camadas, além de terem bastante impacto. Pois bem, o grande mistério da trama, o código que nossa Oráculo precisa resolver, começa justamente com o desaparecimento do irmão de Jenny. Tem coisas estranhas acontecendo no CAPI. 

No roteiro de Marieke Nijkamp, o mistério não é a força motriz da narrativa, funciona mais como um plano de fundo para o desenvolvimento das personagens, principalmente Bárbara, e acho que é uma escolha acertada. Já os outros personagens, com exceção de Bernard, um amigo de Bárbara que estava com ela quando a mesma foi baleada, acabam não recebendo tanto desenvolvimento. Eu fiquei genuinamente interessado com o andar da história, intrigado com o mistério e tudo mais. Porém, a resolução do mesmo me pareceu cair muito no familiar. Mas, e isso preciso destacar com destaque bem destacado, a verdadeira força da história não é a Oráculo, mas sim Bárbara Gordon. Ver ela se reconectando com sua vida e se sentindo completa é realmente especial. A narrativa é bem competente como uma história de mistério, mas brilha mesmo ao se mostrar uma história sobre reconexão e ressignificado. 

Página que representa uma das histórinhas para dormir de Jenny.

A arte de Manuel Preitano é muito bonita e versátil. Como destaquei anteriormente, na parte das histórias de Jenny a arte toma uma forma bem mais macabra e funciona perfeitamente. Durante a jornada de Bárbara Gordon, a arte lembra bem mais o que veríamos em um quadrinho da linha principal da heroína, com traços mais realistas, mas ainda com muita personalidade. Vale dizer que o trabalho de colorização do próprio Manuel Preitano em parceria com Jordie Bellaire é excelente.

Quando terminei minha leitura de "O Código Oráculo", me senti muito satisfeito. A trama é muito forte, com uma protagonista cheia de complexidades se reconectando com a vida e um mistério sombrio e intrigante. A autora entendeu muito bem o peso dos dois focos narrativos e deu um destaque maior naquele que é realmente o mais impactante. Já a arte e as cores acompanham a qualidade narrativa, com um traço que se adapta a história. "O Código Oráculo" pode passar batido para muitos por se tratar de uma graphic novel de um selo secundário de uma grande editora, mas esse quadrinho definitivamente é um mistério vale a pena desvendar.


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Escrito por Thiago Almeida.

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