RESENHA: Tom Strong - A Origem

Todo leitor de histórias em quadrinhos conhece Alan Moore. Entretanto, nem todos os esses leitores estão familiarizados com uma de suas criações mais interessantes: Tom Strong. Na resenha de hoje, vou falar um pouco sobre esse personagem que merece muito mais atenção! 

Para começar, vamos a uma rápida sinopse: Tom Strong acompanha o personagem título, um homem com habilidades sobre-humanas que vive diversas aventuras durante o século XX. Tom é um aventureiro clássico, explorando novos mundos e enfrentando super-vilões tão criativos quanto cartunescos. Para acompanhá-lo em sua aventura, ele conta com sua família e com seus fãs, os Strongmen da América (entre os quais você está incluso)!

É difícil fazer jus a Tom Strong com uma sinopse tão simples. A revista principal de Tom Strong foi lançada em 1999 como parte do America's Bestc Comics, o selo de Alan Moore na WildStorm (e posteriormente DC Comics) que também publicou outras sagas prestigiadas do bruxo, como Promethea, A Liga Extraordinária e Top Ten. Contudo, o motivo que levou a criação de Tom Strong diz muito sobre a indústria dos quadrinhos. 

Em uma entrevista (essa), Alan Moore revelou que criou Tom Strong como uma resposta a Watchmen. Isso mesmo, Tom Strong é a resposta de Moore à sua obra mais famosa. Depois de Watchmen ser lançado, o mercado de quadrinhos nunca mais foi o mesmo e isso irritou profundamente o roteirista. 

Moore esperava que Watchmen fosse apreciado por suas técnicas narrativas complexas e, de certa forma, isso aconteceu. Porém, o mercado se inspirou principalmente em outra característica marcante do gibi do bóton sorridente: o tom mais pessimista e violento para os super-heróis. Nos anos que se seguiram, as histórias de super-herói se tornaram mais sombrias, cheias de sexo e violência. E Alan Moore esperava que Watchmen geraria justamente o efeito oposto. 

Por mais que não goste de super-heróis, Alan Moore cresceu com eles e entende que esses são personagens para crianças e que o padrão da indústria não deve seguir em uma direção oposta. Com Watchmen, Alan Moore explorou um novo lado dos super-heróis e o fez sem a intenção de transformar a indústria. O próprio já disse, inúmeras vezes, que se arrepende de ter escrito "Batman - A Piada Mortal", pois é uma caracterização excessivamente sombria do personagem. 

Como a resposta do mercado para Watchmen foi uma transformação quase completa em algo violento e para adultos, Moore decidiu, por meio de Tom Strong, criar a sua própria resposta a essa tendência. Assim, a revista de Tom Strong abraça as ideias e sentimentos dos quadrinhos das eras de ouro e de prata, nos anos 50 e 60. Portanto, desde as aventuras pulp, como as de Flash Gordon e Spirit, até Crise nas Infinitas Terras influenciam essa que é uma das obras mais otimistas do autor.

Por mais que possa parecer desnecessária, esse contexto sobre a criação de Tom Strong vai me ajudar bastante na resenha, acredite. Então, encontrei o primeiro volume de Tom Strong no sebo da minha cidade e logo o agarrei como um texugo agarra um americano chato gravando um vídeo. Se eu vejo o nome de Alan Moore na capa de um gibi, sei que é uma boa compra. Esse primeiro volume se chama "A Origem" e reúne as edições 1 a 7 da primeira série do personagem. 

Tom Strong é um quadrinho muito divertido. A primeira edição é genial e faz uso da metalinguagem para nos apresentar a origem desse personagem. Seus pais o criaram em uma ilha inexplorada, com a ajuda dos povos locais. Seus pais eram cientistas e, quando criança, Tom cresceu em meio a métodos para a criação do ser humano perfeito. Dessa forma, ele desenvolveu habilidades sobre-humanas, como super-força, super-intelecto, longevidade e outras características formidáveis. 

Depois de uma primeira edição, acompanhamos Tom Strong e sua família no presente (1999 e 2000, a época de lançamento do quadrinho) vivendo aventuras que se ligam a outras aventuras que Tom viveu durante o século XX. Muitas das edições neste volume possuem a história principal que se passa no presente e, no meio dela, uma história do passado, apresentada e escrita/desenhada simulando o estilo da época.

Durante o século XX, Tom Strong enfrenta nazistas (ele soca muitos fascistas nessa edição, um quadro mais belo que o outro!), astecas de uma realidade alternativa que cultuam um deus IA,  um gênio do mal ala vilão de James Bond e muito mais. O que não falta em Tom Strong é criatividade e empolgação para contar histórias que são divertidas e de tirar o fôlego. 

Diferente de outras obras de Alan Moore, Tom Strong não é uma leitura densa. Moore conta histórias que são diretas e que exalam otimismo, esperança e bondade, se aprofundando nas populares aventuras pulp do século XX, sem deixar de ser um quadrinho acessível para todos. É muito difícil escolher uma edição favorita, pois cada uma é cheia de engenhosidade, conceitos inteligentes e, apesar de não ter citado até então, uma arte belíssima. 

O co-criador de Tom Strong e artista de grande parte das histórias que se passam no presente é Chris Sprouse. Alan Gordon é o arte-finalista. As páginas desenhadas por Sprouse e finalizadas por Gordon exalam tudo o que havia de melhor do "quadrinho moderno", com um traço belo, autoral e cheio de personalidade, casando perfeitamente com os roteiros sagazes de Moore. Já as histórias do passado, que aparecem no meio das edições, são de responsabilidade de outros grandes nomes da indústria e contribuem imensamente para o feeling da coisa. Entre os grandes artistas convidados, destaco Dave Gibbons e Gary Frank. 

Quanto aos personagens, eles são arquétipos clássicos do gênero escritos de uma maneira moderna. Tom Strong é o típico aventureiro perfeito, o escoteiro que inspira o mundo; Dahlia, sua esposa, é forte, inteligente e gentil; Tesla, filha do casal, segue os passos de seus pais e vive pela aventura; a família fica completa com Rei Salomão, um gorila inteligente, e Pneuman, o robô a vapor que o pai de Tom criou para ficar ao seu lado sempre. 

Tom Strong é publicado no Brasil pela Panini e foi relançado em uma nova edição recentemente .

Não quero dar spoilers, mas os vilões seguem a mesma linha, com Saveen, um gênio do mal que passa o século XX todo duelando com Tom Strong sendo o meu favorito. Quem não ama um vilão genial que é absurdamente e sempre se dá mal enquanto jura vingança conta o herói? Já disse antes, mas Alan Moore e Chris Sprouse fazem questão de colocar nazistas (e outros fascistas) apanhando bastante e as mensagens anti-fascistas da obra são muito presentes. Como deve ser. 

Todo mundo conhece a genialidade de Alan Moore e dizer que o bruxo de Northampton é um dos maiores nomes da literatura do século XX já é clichê. Porém, não são muitos os leitores que conhecem o lado de Moore que ele nos mostra ao escrever Tom Strong, cheio de esperança e empolgação. Uma resposta a própria obra do autor que moldaria os quadrinhos, Tom Strong é inteligente, divertido, relevante e cheio de amor pela nona arte.

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Escrito por Thiago Almeida.


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