As Autoras de B-Shonen- #3: Hiromu Arakawa


Desde discussões sociopolíticas, passando por filosofia e chegando ao estranho e até complexo mundo dos mangás de batalha, poucas são as histórias que conseguem sintetizar toda sua importância temática com a dura tarefa de entreter pré-adolescentes sedentos por socos, chutes e técnicas especiais. Todavia, existem aqueles mangás. Aqueles mesmo. Capazes de atingir uma gama enorme de público, com histórias que vão além do simples entretenimento fútil, questionando seus mundos fictícios sem perder o escapismo, em perfeito equilíbrio.

Após um tempo considerável, a série especial As Autoras de B-Shonen está de volta. Já falamos sobre máfias e tragédias, então porque não falar de... QUÍMICA!? É, eu sei, e te garanto que o Thiago do ensino médio teria a mesma reação. Porém, vocês já viram a capa do post.  No texto de hoje, temos em foco uma das mangakás mais aclamadas do século: a senhora da alquimia, Hiromu Arakawa!

Avatar da autora.

Hiromi Arakawa nasceu no dia 8 de Maio de 1973, em Tokachi, Hokkaido. Ela cresceu em uma fazenda com muitas irmãs, ajudando seus pais na fazenda enquanto, claro, colecionava todo tipo de mangá, sendo que suas revistas favoritas eram a  Weekly Shonen Jump e a Weekly Shonen Sunday (ambas revistas que tinham como público alvo os garotos). Um dos seus mangás favoritos era Kinnikuman, um mangá de comédia publicado na Shonen Jump e que teve um de seus animes exibido no Brasil com o título de "Músculo Total". Como deu para perceber, desde criança Hiromi era apaixonada por mangás e não é de se espantar que já tinha o sonho de se tornar uma autora.

Ao chegar no ensino médio, estudou em uma escola agrícola e, ao se formar, fez um trato com seus pais: ajudaria eles na fazenda por 7 anos e enquanto isso faria aulas de pintura a óleo na cidade. Durante esse tempo, Hiromi desenhou fanzines com seus amigos e fez yonkomas (tirinhas) para revista Gamest, onde fazia paródias dos jogos que apareciam em cada edição, nessa época usava o pseudônimo de Edmund Arakawa. Quando os 7 anos passaram, se mudou para Tóquio visando seguir seu sonho como mangáka e prometeu para seus pais que só voltaria depois que pudesse se sustentar com seu trabalho.


Ao se mudar para a cidade grande, foi aceita como assistente do mangaká Eto Hiroyuki, conhecido pelo mangá Mahojin Guru Guru. Seu primeiro trabalho profissional solo foi o one-shot "Stray Dog", de 1999, que foi publicado pela Enix após ela vencer um concurso, que também lhe rendeu um contrato com a editora. Sua primeiro obra para a revista foi Shanghai Yomakikai, uma série irregular sobre um escritório de caçadores de demônios em uma Xangai futurista, que foi publicada entre 2000 e 2006.

Em 2001, a autora (agora já usando o pseudônimo "Hiromu", variação masculina de "Hiromi", porque tinha medo que os leitores não levassem a sério um mangá shonen escrito por uma mulher), começou a publicação mensal de Fullmetal Alchemist, seu maior sucesso e um dos mangás shonen mais aclamado de todos os tempos. Fullmetal Alchemist conta a história de Edward e Alphonse Elric, dois irmãos alquimistas que buscam a lendária pedra filosofal para recuperar partes de seus corpos que foram tomadas após tentarem uma troca proibida. Inicialmente o mangá não chamou muita atenção, mas não demorou muito para leitores e críticos reconhecerem a grande, complexa e instigante história que os dois irmãos estavam protagonizando, discorrendo sobre sociologia, política, guerra, filosofia, dentre os mais diversos temas, sem deixar a peteca de ser um mangá de ação e poderes cair. Uma verdadeira obra prima.


Arakawa fez uma grande pesquisa para a série, entrevistando veteranos de guerra lendo diversos livros e, como toda boa autora, se inspirando em suas próprias visões e gostos para desenvolver o mundo de seus alquimistas, até citando filmes b como uma grande inspiração para o feeling e o modo como trabalha a alquimia na série. Entre outras coisas, ela ainda cita que história europeia, renascimento, começo do século 20 e, nos mangás, Hokuto no ken, Dragon Ball e Hunter x Hunter foram grandes influências para ela.

Durante toda sua publicação na Shonen Ganan, Fullmetal Alchemist foi um estrondoso sucesso, recebendo os prêmios mais importantes da indústria, vendendo mais de 70 milhões de cópias, recebendo 2 adaptações em anime, OVAs, filmes e gerando todo tipo de produto derivado. Como tudo chega ao fim um dia, a história dos irmãos Elric encontrou seu final em 2010, com 27 volumes no total. Entretanto, a série segue muito relevante até hoje, tendo recebido até mesmo uma adaptação em live action no ano de 2018 e sendo considerada um clássico incontestável da cultura pop nipônica.


Indo além de sua maior obra, Hiromua Arakawa sempre foi muito prolífica e enquanto FMA estava em publicação, criou outras histórias, tais como o mangá de humor negro Raiden-18 (2005-2010, 3 capítulos), o one-shot Soten no Komori (de 2006) e a série de aventura Hero Tales (2006-2010, 5 volumes).

Sua segunda grande série depois de Fullmetal Alchemist, Silver Spoon teve início em 2011 na revista semanal Weekly Shonen Sunday (aquela mesma que ela lia quando criança!) e chegou ao fim recentemente, em 2019 e com 15 volumes. A história se passa em uma escola  agrícola e é um slice of life muito gostoso de se ler, recomendo muito. Ah, e tem anime!

Silver Spoon na capa da Shonen Sunday.

Atualmente, Hiromu Arakawa é casada e mãe de 3 crianças, além de contar com 2 mangás em publicação! O primeiro é Arslan Senki, publicado na Bessatsu Shonen Magazine desde 2013 e atualmente com 12 volumes, é uma adaptação da light novel de mesmo nome e neste mangá Hiromu-sensei é responsável apenas pela arte. O mangá em si vai para o lado de grande batalhas e estratégias de guerra, mas sem perder a humanidade e os debates filosóficos, sendo uma ótima pedida para quem curte esse tipo de série (e está sendo publicado no Brasil pela JBC). A outra obra é o mangá shoujo de comédia Hyakushô Kizoku, publicado de maneira irregular na revista Wings e que narra de maneira bem humorada a vida da autora na época em que ela morava em Hokkaido.


Responsável por um grande clássico moderno dos mangás, além de muito prolífica e habilidosa em praticamente todos gêneros, Hiromu Arakawa mostrou que os battle shonens podem conter histórias complexas, além de  socialmente e politicamente relevantes, ainda assim sem deixar a desejar nas características mais clássicas do gênero. Uma verdadeira obra prima, uma verdadeira grande autora que acabou com qualquer dúvida infundada de que se uma mulher poderia fazer um bom mangá shonen.


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Muito obrigado por ler até aqui! É muito legal trazer essa série de textos de volta, mesmo depois de uma longa pausa. O próximo texto deve ser o último, mas já tenho outros projetos em mente. Muito obrigado pela paciência e sinta-se totalmente livre para interagir nos comentários, mandar seu feedback, sugerir textos, e o que mais você quiser!

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Até o próximo texto!

Escrito por Thiago Almeida

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