Star Wars Visions: Os curtas ranqueados

Há pouco tempo atrás, nessa mesma galáxia, a Disney+ adicionou ao seu catálogo a antologia "Star Wars Visions", o primeiro contato da franquia espacial de George Lucas com os animes de fato (mangás já tem alguns!). Eu sou um fã de Star Wars e um fã de anime, então esse é literalmente o melhor dos dois mundos para mim e, no texto de hoje, vou falar de cada um dos curtas, começando pelos que menos gostei até chegar nos que mais gostei. 

Antes de começar, preciso dizer que vou usar as sinopses da Disney+ e que não vão ter spoilers pesados, então leia sem medo. Agora, vamos entrar no hiperespaço! 


O Nono Jedi

A filha de um criador de sabres de luz é perseguida por forças sombrias durante uma perigosa missão.

Quando esse curta começou, eu pensei que seguiria um plot parecido com o do primeiro filme de Pokémon, mas no final foram só uns pontos parecidos, já que aqui nós temos dois núcleos sendo desenvolvidos, o primeiro sendo um grupo de jedi, em algum momento onde os jedi estão desparecendo novamente pelas mãos dos sith que não fica muito claro, e o segundo núcleo é a perseguição da sinopse, com Kara, filha do tal criador de sabres de luz, sendo perseguida por assassinos enquanto tenta chegar onde o primeiro núcleo está e entregar os sabres.

"O Nono Jedi" é uma produção do estúdio Production I.G., com direção de Kenji Kamiyana, e seus pontos mais fortes estão realmente no âmbito técnico. A qualidade da animação e o design de personagens são incríveis e a trilha sonora é muito starwarszesca, mas a narrativa aqui parece meio atrapalhada e expositiva demais, mesmo que com um bom plot twist perto do fim, o novo conceito dado aos sabres de luz (que assumem uma cor que reflete quem está usando) parece uma mistificação desnecessária e isso é só uma opinião minha mesmo, eu pessoalmente não gostei, mas a ideia da série é não se apegar ao cânone mesmo. 

Definitivamente ter "O Nono Jedi" como o "último lugar" do ranking é um bom sinal para essa antologia, porque este curta de fato não é ruim e tem muitos pontos positivos tecnicamente, só não curti os novos conceitos e a exposição excessiva, mas entendo que possa ter um grande apelo para outras pessoas.


A Noiva Aldeã

Uma jedi em fuga experimenta os costumes únicos de uma aldeia distante ameaçada por um vilão.

Esse curta dirigido por Hitoshi Haga e produzido pelo Kinema Citrus não é o mais inventivo de Visions, e tudo bem. Seu foco é contar uma história sobre harmonia e paz usando os acontecimentos da aldeia e seus habitantes, que se veem com uma difícil escolha, e a jedi, que aparentemente passou por uma situação bem difícil recentemente e perdeu seu ímpeto. É uma narrativa bem simples e sem surpresa alguma, mas que ainda assim traz conceitos legais e uma ótima qualidade técnica. Bom, tirando o final, que é um slideshow. Cronogramas de animação são complicados.

De qualquer forma, "A Noiva Aldeã" tem bons momentos em seu roteiro e uma qualidade técnica bem consistente.


Lop & Ochô

Uma família fica dividida sobre o que fazer quando o império invade o seu planeta. 

Quando a industrialização chega, a única certeza é que o meio-ambiente vai sofrer, e tal relação já foi explorada em outras histórias da saga de George Lucas, entretanto, é legal vê-la a partir desta perspectiva e roupagem bem japonesa. Além desse conflito, que até fica no plano de fundo, temos a relação familiar entre Lop, Ochô e o pai delas, que tem visões muito diferentes de como se adaptar a situação. Lop, que é a filha adotiva do líder do planeta, quer ver sua família unida, enquanto Ochô acha que se unir ao Império é a única forma de fazer com que sua casa continue próspera. No fim do curta, rola uma batalha ideal e literal muito bem construída, com uma direção excelente por parte de Yuki Igarashi.

A produção é do Geno Studio, e, preciso dizer, é o melhor trabalho deles que já vi. Não só a direção é muito afiada, como a animação atinge o ápice dos trabalhos do estúdio, que já penou bastante no passado. Mesmo não sendo nada realmente novo, "Lop & Ochô" é muito bem dirigido e traz perspectivas interessantes para a franquia.  


O Duelo

Um estranho nômade com um passado misterioso defende um aldeia de poderosos vilões. 

Todo em CGI e com uma estilização que remete aos antigos filmes de samurai de Kurosawa, "O Duelo" é dirigido por Takanobu Mizuno e produzido pelo estúdio Kamikaze Douga.  Esse curta joga bem seguro com seu conceito, um guerreiro solitário chega à uma cidade aterrorizada por bandidos, e é muito eficiente em sua execução, mesmo que bem básico. A atmosfera é bem construída, sendo que o filtro preto e branco nos deixa no clima certo para assistir, bem, um duelo.

Tudo em "O Duelo" funciona, mas tirando os visuais, nada realmente salta aos olhos. O roteiro não complica demais e ainda entrega uma ou duas surpresas que dão o gás necessário para te manter entretido na história sendo contada e na ação. É, definitivamente é um curta que funciona.


O Ancião

Um jedi e seu padawan perseguem uma presença sombria e perigosa.

Um dos dois curtas do estúdio Trigger, esse dirigido e escrito por Masahiko Otsuka, "O Ancião" explora a clássica dinâmica de mestre jedi e padawan, apresentando dois personagens carismáticos que pousam em um planeta onde um antigo mal espreita. O roteiro aqui não tem medo de dar tempo para construir a relação entre os personagens, o que nos prepara muito bem para o que está por vir quando a ameaça aparece e, não tem como negar, é bem ameaçadora! A segunda parte do curta é cheia de ação e além da animação muito acima da média, a direção e as coreografias de ação entregam uma luta fantástica. É impossível negar que batalhas de sabre de luz na chuva são a coisa mais legal desta galáxia!  


AKAKIRI

Um jedi reencontra um amor proibido para ajudar a defender seu reino de uma poderosa sith.

AKAKIRI é muito corajoso. Para começar, tecnicamente, junto com o outro curta do Science Saru, é um dos curtas mais experimentais e inventivos visualmente da antologia. Seu design de personagens é muito único e lindo, e a direção explora ângulos inesperados, sequências lúdicas e uma forma muito própria de representar as batalhas de sabres de luz, deixando aquela singela homenagem aos filmes de samurai, com Eunyong Choi, a diretora, mostrando que é muito mais que apenas a protegida de Masaaki Yuasa.

Agora, o roteiro, de Yuichiro Kido, faz um trabalho excelente ao explorar algumas fundações e tabus dos jedi, como a ideia de predestinação e amor, e como este último é uma ameaça maior aos cavaleiros da força do que os próprios sith. 


Os Gêmeos

Gêmeos nascidos no lado sombrio da força se enfrentam a bordo de um imenso Destroier Estelar. 

Dirigido pelo lendário Hiroyuki Imaishi, aqui toda a energia e inventividade do estúdio Trigger é injetado no universo de Star Wars. Com uma história de irmãos criados pelo lado sombrio para um propósito maligno e usando uma arma ainda mais maligna, os gêmeos (ambos sith) entram em conflito quando divergem sobre o futuro e isso leva a grandes sequências de ação frenética e super estilosa. Aqui, sobra energia, tudo é muito dinâmico, incluindo o humor, muito bem colocado em meio a batalha e tudo o que pode ser alcançado e perdido com ela. 

Os designs e a trilha sonora potencializam ainda mais a inventividade e dinamismo da direção, fazendo de "Os Gêmeos" o curta mais movimentado de todo "Visions". 


A Balada de Tatooine

Uma banda que sonha alto deve salvar um de seus integrantes de Jabba, o Hutt e Boba Fett.

Mostrando quem nem só de jedis e siths o universo Star Wars é feito, "A Balada de Tatooine" é uma história muito divertida sobre uma banda que se mete em uma grande enrascada. O conceito é muito simples e se aproveita do cânone já estabelecido e pelo fato de não ter que se apegar o mesmo para mostrar personagens conhecidos em uma situação inesperada.

A produção é do estúdio Colorido  e a direção é de Taku Kimura, a qualidade técnica é bem o que se espera deles, tudo bem acima da média, entretanto, preciso dizer que a escolha de representar as personagens de forma "chibi" ganhou completamente meus corações e eu preciso desesperadamente de um bonequinho do Boba Fett nesse estilo. E, claro, não poderia deixar de falar da música! Uma das minhas 3½ fraquezas é o J-Rock, então eu realmente fui vencido aqui." A Balada de Tatooine" mostra que o universo Star Wars é vasto e tem espaço de sobra para bandas e histórias boas.


T0-B1


Um garoto cibernético que sonha em ser um jedi descobre uma perigosa verdade sobre seu criador.  

O curta dirigido pelo espanhol Abel Góngora e produzido pelo Science Saru, "T0-B1", nos traz um pequeno droid que sonha em ser jedi. É possível? Eu não sei. Importa se é? Não. Esse curta é completamente lindo, em todos os seus aspectos. A sua narrativa é muito singela e intimista, discorrendo sobre o "eu", sobre "O Ser Alguém" e mostra que a resposta está dentro de cada um de nós. A história aos moldes de "Pinóquio" de T0-B1 é conduzida com sensibilidade, humanizando seus personagens e se aproveitando dos subentendidos da franquia, sem precisar recorrer a quase nenhuma exposição. A história do doutor, a apresentação do vilão e o crescimento do protagonista são todos entregues sem a necessidade de "forçá-los" ao espectador.

Claro que para dar tão certo a execução do roteiro (escrito por Yuichiro Kido), a direção e a equipe técnica tem uma grande influência e, meu santo Yoda, a qualidade alcançada em cada campo é a mais alta. Os visuais remetem aos mangás clássicos de Osamu Tezuka, gerando uma certa familiaridade muito bem vinda com Astro Boy, uma obra super importante pra cultura da animação japonesa, e a direção não tem medo de ser experimental em todos os seus aspectos. A trilha sonora e a direção de arte, com foco nos backgrounds, são outros dois pontos fortíssimos que contribuem para tornar T0-B1 em uma experiência criativa e tocante, um achado especial em meio a tantas galáxias tão tão distantes. 

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Pontos perdidos:
- Da maneira como a Disney+ organizou a ordem para ver os curtas, os dois últimos tem finais pessimistas!
- A legenda usa "Lado Negro" ao invés de "Lado Sombrio", poderiam ter revisado isso aí.
- O Abel Góngora dirigiu a abertura de Eizouken!!! A propósito, aqui o making of!

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Nos lemos no próximo texto. Até lá!

Escrito por um Thiago que não consegue parar de pensar no bonequinho do Boba Fett chibi.

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